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Breve apontamento da fundadora do Olha-Te – Célia Antunes

 

Célia Antunes, natural da Marinha Grande, mudou-se para as Caldas da Rainha em 1987 por motivos profissionais do seu pai. Licenciada em Gestão pela Universidade Autónoma de Lisboa, Pólo das Caldas da Rainha, teve um vasto percurso profissional na área do seu curso começando, ainda estudante universitária, a trabalhar em contabilidade no Gabinete Rosa Barreto, Lda e posteriormente na Fábrica dos Números, Lda. Exerceu o cargo de Diretora Administrativa e Financeira da empresa SOPROFOR – Sociedade Promotora de Formação Profissional, Lda, onde também foi Coordenadora Nacional da 1ªEdição do Projeto FEMINIS – Projeto de apoio ao Empreendedorismo Feminino que se desenvolveu em Bragança, Chaves, Porto, Coimbra, Leiria, Marinha Grande e Loulé. Foi Sócia fundadora da Associação NovaEra – Associação de Desenvolvimento local, onde dinamizou várias atividades para as crianças do “Centro da Ponte” da Santa casa da Misericórdia. Fez parte da equipa de arranque da CCER MAIS – Cooperativa para a Promoção Cultural, Educacional, Reintegração, Marketing, auditoria e Intervenção social, CRL, sediada em Leiria. Em 2010, Colaborou no IFADAP – Instituto de Financiamento, Apoio e Desenvolvimento da Agricultura e Pescas na área financeira, nomeadamente na auditoria interna das fichas de controlo referente à transição entre o II e III QCA. Foi monitora do Mathnasium – ginásio da matemática. No GABINAE foi mediadora de formação em três cursos de Dupla Certificação, passou ainda pela Projectar Sorri, – empresa de Formação Profissional, Lda como coordenadora de projetos. Colabora na empresa FORME – SHST, Medicina no Trabalho, na organização de métodos de trabalho e na contabilidade como freelance.

Aos 30 anos, em 2003, foi-lhe diagnosticado um cancro nos intestinos que a levou a estar 9 meses ostomizada (com um saco para o intestino na barriga). A doença e a realidade que viveu levou-a a alterar a sua forma de estar e ver a vida. A partir dessa altura tirou vários cursos ligados à arte, tais como, teatro, voz, educação musical, história de arte, escrita criativa, entre outros e participou em projetos de teatro. Em 2012 tirou o curso “ Viver a arte, voltar à vida” no ISPA – Instituto Superior de Psicologia Aplicada. Por experiência própria reconheceu e validou em si que a arte, associada ao apoio psicológico, é uma ferramenta valiosa para fortalecer uma pessoa doente a nível emocional o que leva ao fortalecimento do corpo. Em 2010 contactou pessoas ligadas a várias áreas e fundou o Olha-Te nesse ano, nomeadamente no dia 1 Outubro de 2010.

A mentora do projeto, após ultrapassar a sua doença oncológica, desejou partilhar com outros esse processo de transformação pessoal perante a “catástrofe individual”. Esta fase de regeneração incluiu várias atividades expressivas e artísticas que favoreceram o seu bem-estar. Esta experiência serviu de inspiração à criação do projeto Olha-Te. Contactou a Associação Recreio Club, sendo o seu pai sócio desta e a associação Recreio Club disponibilizou-lhe uma sala. Hoje em dia o Olha-Te tornou-se um projeto da associação dado todos os sócios apadrinharem esta ideia. Célia entrou em contacto com várias pessoas de diferentes áreas para a dinamização das diversas atividades. Inicialmente entraram 5 pessoas doentes oncológicos no Olha-Te e em projeto piloto foi-se trabalhando e validando a metodologia que se aplicou. À medida que o tempo foi passando foi-se chegando mais e mais pessoas tanto doentes oncológicos e familiares como pessoas e instituições interessadas em apoiar e criou-se uma plataforma. Sente-se que todos “ganham” emotivamente e enriquecem pessoalmente através desta sinergia entre todos.

Conhecendo bem a sensação de passar pelo problema, tanto como doente (tumor do intestino, com remoção do intestino grosso), como cuidadora da doença da sua mãe durante muitos anos, faz dela uma pessoa sensível às questões relacionadas com o cancro e a com a condição humana. Encontrou o sentido de vida no aumentar da sua qualidade e, criando condições que permitem o aumento da autoestima, a valorização pessoal, o entusiasmo, o criar novos interesses e vontade, o despertar para um sentido para a vida de outras pessoas que passam pelo mesmo.

Considera que o cancro é uma catástrofe individual e como qualquer catástrofe requer reconstrução. A arte, o acompanhamento psicológico e um grupo de pertença onde a pessoa se sinta confortável, confiante e protegido são condições que quer criar para ajudar nessa reconstrução da pessoa que aparece no Olha-Te. Muitas vezes é através da doença que a vida encontra um novo sentido e/ou um olhar diferente para a sua vida, com a mudança de estilo de vida ou o descobrir de uma nova profissão, área de interesse ou outro motivo de motivação e alegria. Seja a oportunidade e de inovação da própria pessoa, seja através de uma nova forma de estar na vida, seja através de viver na mesma maneira mas com outra consciência. A frase seguinte foi a frase que escolheu para iniciar a apresentação do Olha-Te

“Cada um esconde dentro de si muito mais
do que aquilo que alguma vez poderá explorar.
A não ser que criemos as condições que nos permitam descobrir os limites do nosso potencial, nunca saberemos o que vai dentro de nós.”

Muhammad Yunus, Fundador do Microcrédito e prémio Nobel da Paz 2006

A preocupação de respeitar os novos ritmos das pessoas doentes oncológicos que terminando todo o processo retomam à vida normal e que sentem dificuldades no reposicionamento é a próxima aposta do Olha-Te. Pois os doentes oncológicos muitas vezes são obrigados a voltar aos seus empregos muitas vezes desajustados à nova situação e essa passagem é muitas vezes brusca e intensa depois de tudo o que a pessoa sofre. Considera que poderá levar ao aparecimento da doença, a depressões e outras situações negativas que se estendem à família e pessoas próximas.

Os resultados destes cinco anos e meio são visíveis nas pessoas que passam pelo Olha-Te.